Sabe quando você busca um médico e encontra muito mais do que um profissional?
A primeira entrevista do blog tinha que ser com o amigo e cirurgião do Davi, o Dr. Luiz Sergio Zanini. Ele é Chefe do Serviço de Cirurgia Plástica e Fissuras Labiopalatais do Hospital Municipal N. Sra do Loreto (Ilha do Governador/RJ). Também é parceiro de duas organizações sociais que beneficiam crianças com fissuras: a Saúde Criança Ilha, que trabalha para reestruturar e promover o autossustento de crianças e suas famílias em risco social e a Smile Train, que fornece cirurgias gratuitas, além de treinamento, financiamento e recursos para capacitar os médicos locais em mais de 85 países em desenvolvimento.
Experiência ele tem de sobra, mas a sua especialidade é cuidar do próximo. Muito gentil, carinhoso e humilde, Dr. Zanini dividiu um pouco do seu conhecimento na entrevista abaixo:
1. O que é uma fenda labial e palatina?
As Fendas labiais e/ou palatinas são situações de mal formação congênita de estruturas da face. São conhecidas como lábio leporino (lembra o lábio das lebres e coelhos) e “céu da boca aberto”. Estas situações podem ocorrer de diversas formas, de acordo com o grau de penetração do problema, podendo afetar o lábio, nariz, palato duro, palato mole. Podem ocorrer em conjunto, ou seja, podem acometer todas estas estruturas ao mesmo tempo, ou apenas parte delas, também podem ocorrer apenas de um lado da face, ou de ambos os lados.
Na verdade, na vida intra uterina todos nós temos “fendas”. A formação das estruturas de nossa face, como grande parte de nosso corpo, se devem à fusão de diversos processos ou protuberâncias no corpo fetal, que se desenvolvem de cada lado da face e vão crescendo, se expandindo para se encontrarem no centro. Este processo se deve a divisões celulares que ocorrem até a 12ª semana de vida embrionária. Caso estas protuberâncias se atrasem neste movimento de fusão no centro da face, ocorrerá uma fenda ou fissura.
2. Quais seriam as possíveis causas?
É de praxe se dizer que cerca de 35% dos casos são genéticos e que os outros 65% são de outras causas, porém, sabe-se hoje que a maioria dos casos tem algum precedente genético na família dos pais ou de um deles. Para isso não precisa ter ocorrido antes em uma ou ambas as famílias, pode ser que exista a falha genética e nunca tenha se manifestado, mas naquela gestação, por diversos motivos, ela ocorreu. Ou seja: a maioria dos casos tem alguma influência genética, mas em muitos casos esta influência se manifestou devido a características daquela gestação.
Se a situação é de um atraso na fusão destas estruturas faciais, estamos falando de crescimento do corpo, o que sabemos, acontece através de um processo de divisão celular. Assim sendo, qualquer situação que afete a divisão celular no sentido de retarda-la pode fazer ocorrer uma fissura. A maior causa disso de que se tem notícia é a diminuição de oxigênio para o embrião, o que pode ocorrer em diversas circunstâncias.
Algumas situações podem contribuir neste sentido, até a 12ª semana de vida intra uterina: má nutrição materna, que na maioria das vezes pode ser observada através de uma anemia, uso de cigarro, drogas, álcool ( e aqui não estamos falando de embriaguez, mas de uso de álcool suficiente para interferir no processo de divisão celular de um embrião de milímetros, que não se sabe exatamente como precisar a quantidade), uso de medicações como anti-convulsivantes (fenobarbital), medicações conhecidas como “calmantes” como os benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam), situações de doenças como hipertensão, diabetes, exposição excessiva a raios ionizantes como o raio X, e até mesmo o estresse.
3. Quando a descoberta ocorre ainda na gravidez, o que os pais podem fazer?
Já vai longe a data em que me deparei com o primeiro diagnóstico intra útero. E confesso que no início tinha minhas dúvidas a respeito ser esta uma boa situação ou não, saber de antemão. Hoje já entendo de uma forma diferente. Após anos cuidando destas famílias creio que saber previamente é realmente uma benção, pois a família e também a equipe médica que irá atuar no parto podem se preparar melhor para a situação. Em minha opinião as famílias devem procurar ajuda com especialistas. O tratamento dos pacientes portadores de fissuras é sempre uma situação que exige a atuação de uma equipe interdisciplinar, e esta necessidade pode não ter relação direta com a gravidade do caso. Cada caso é uma situação em especial e precisa ser visto em sua individualidade. Na verdade creio que não tratamos de fissuras, mas tratamos famílias e isso por si só exige uma situação em especial. Procurar ajuda será primordial, mas em minha opinião o melhor “profissional” pode ser uma outra família que já tenha vivido esta situação! Nada como alguém que já experimentou o que vivemos para nos dar apoio e um ombro amigo…
4. Qual é o tratamento?
O tratamento varia de acordo com a abrangência da falha. Mas sempre exige uma grande equipe. A experiência é fundamental para se ter os melhores resultados. E experiência exige anos de caminhada. A ênfase do tratamento é a precocidade. Quanto antes iniciar-se o processo melhores os resultados. Costumo dizer que o tratamento é como uma escada. E cada degrau é uma situação diferente. Em cada fase do processo há necessidades importantes e diferentes que precisam ser bem abordadas para se chegar ao topo. Atenção, vínculo, responsabilidade, empenho, compreensão, carinho, expertise… tudo isso é muito importante, mas principalmente o AMOR! Amor pela família, amor pelo que se faz.
Em alguma fase do processo haverá necessidade de uma cirurgia, mas ela é parte do processo, parte “da subida”. Uma cirurgia pode ser bem feita, mas se não houver a continuidade do processo, tudo pode ser em vão. E ainda, mesmo antes da cirurgia existem necessidades supridas por outros profissionais que não o cirurgião. Na verdade ele age como que um coordenador do cuidado. E não se pode esquecer que pode ser preciso mais de uma cirurgia.
5. A ocorrência da fenda pode influenciar na audição, dentição e na fala da criança?
Sim. As alterações das fendas ou fissuras não se limitam ao terreno estético, mas principalmente do funcional. Digo principalmente, porque ao contrário do que se possa pensar, a maioria dos estudos voltados para os aspectos psicológicos dos portadores de fissuras apontam os problemas da fala como sua principal queixa. Podem ainda ocorrer alterações importantes da mordida, como também alterações nos níveis de audição, respiração, alimentação. Todo o espectro de alterações tem diferentes graus de penetração e manifestação na vida do paciente, no entanto, novamente enfatiza-se que a precocidade é o fator preponderante em se evitar muitos problemas.
6.Como cirurgião, como você se sente operando tantas crianças e trazendo tanta alegria para essas famílias?
Na verdade costumo dizer que fui levado a uma “armadilha” quando iniciei minha caminhada com estas famílias. Digo armadilha, porque tudo começou com uma questão de fé. E na medida em que fui caminhando, isso foi tomando cada vez mais espaço em minha vida. Até ao ponto que não pude mais abrir mão de estar junto com estas pessoas. Como pregar o amor de Deus, como pregar o evangelho de Jesus Cristo e virar as costas para tudo isso? Assim, eu caí mesmo numa “armadilha”, no entanto, o maior privilegiado fui eu! Não me arrependo de uma vírgula do que fiz. E é assim que me sinto realmente: privilegiado! É um privilégio poder servir a Deus com minha vida caminhando junto com estas famílias, poder contribuir de alguma forma para aliviar a dor alheia… mas afinal não é assim que Jesus nos ensinou? Mais bem aventurado é dar do que receber… e eu tenho recebido MUITO dele através destas vidas também. Tenho uma história com estas muitas pessoas, estas muitas famílias…
7. E para finalizar, que mensagem você deixa para todos os pais e familiares de crianças com fendas?
Minha mensagem não poderia ser outra: a Bíblia, a qual eu creio ser a Palavra de Deus, nos ensina que não cai uma folha sequer de uma árvore, em toda a face da terra sem que seja pela vontade de Deus. Ela nos diz que TODOS os fios de nossos cabelos são contados… e é ela também que nos diz que temos um Pai nos céus, que nos ama, e a prova disse é que nos deu vida! A existência da vida é uma prova do amor de Deus para conosco.
Todas as vezes que um espermatozoide entra em um óvulo, se Ele não agir e soprar ali o Seu espírito, não haverá vida! Logo, se há vida, é porque ELE QUIS. E se Ele quis, irá cuidar…
Minha mente insiste em querer me roubar estas verdades, mas elas são o que são: a verdade! E são verdade não porque eu acho mas porque Ele disse! E a prova que tenho disso é a minha própria vida, que mudou completamente de rumo quando ouvi estas palavras. Portanto, mesmo que sua mente insista em te roubar esta verdade, se apegue a ela, não largue dela, e Ele irá suprir todas as coisas.
Nem sempre entendemos o que passamos, mas nem por isso Ele deixa de existir. Tão somente creia! Creia que seu filho “não é uma fenda”, ele é muito mais do que isto! Creia que ele é uma vida, creia que ele é um presente do Criador para você cuidar e criar… PARA ELE! Esta pequena vida que agora pode estar no seu ventre, ou até já ter saído dele, é uma prova viva do amor do Pai por sua casa, por sua família! Ele é uma vida, e pode ser criado, viver e desfrutar das mesmas bênçãos que o Criador tem para todos nós…
Termino com as palavras dele para todos nós:
“Pois tu formaste o meu interior; tu me teceste no seio de minha mãe.
Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste, as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem.
Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e entretecido como nas como nas profundezas da terra.
Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.
Que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos!
Como é grande a soma deles! Se os contasse excedem os grãos de areia, contaria e contaria sem jamais chegar ao fim.” Salmos 139.
Se você gostou da entrevista e quer saber mais, mande a sua pergunta!
Mais informações sobre o trabalho do Dr. Luiz Sergio Zanini, você encontra em:
http://www.smiletrainbrasil.com/23.html
http://smiletrainbrasil.com/blog/?p=1188
http://www.smiletrainbrasil.com/emailmkt/news02/
https://www.smiletrain.org/stories/common-language-and-common-cause
http://smsdc-hospital-loreto.blogspot.com.br/2015/03/dr-luis-sergio-zanini-visita-programa.html
http://saudecriancailha.blogspot.com.br/
http://smiletrainbrasil.com/31.html
http://smiletrainbrasil.com/07.html
Meu filho hoje com 09 anos ainda é acompanhado pelo Dr Sergio.
excelente medico
equipe formidável
Agradeço a Deus por capacita esse homem a servir com tanto amor!
Não só os necessitados de atenção mediante a má formação (fenda e lábio em geral) mais sim toda família que ao entrar no consultório medico do Dr Sergio e recebido com toda atenção e sai da consulta medica com toda orientação de tratamento,deixando toda família segura de um futuro diferente ao do nascimento.
Parabéns pela excelente entrevista referente a lábio leporino e fenda palatina e grandioso profissional.
Fico muito feliz em ler esses tipo de matéria informativa.
Um grande abraço a todos
Olá, Telma! Fico mto feliz com seu comentárido e sua participação aqui no blog!Continue por aqui e fique à vontade se quiser contar a sua história com o seu filho também. Acho que com essa corrente do bem conseguimos compartilhar sempre mais informações que tranquilizem as famílias que descobrem fenda. Segue a resposta carinhosa do Dr Zanini:
“Cara Sra Telma, fico muito feliz e, saber que através de minha profissão minha vida possa ter sido tão importante para vc e sua casa! Sempre digo que é um privilégio poder participar deste processo com uma familia… Privilégio pq nada se compara a estar na intimidade de um lar tanto na dor qto na alegria… Muito obgd por seu reconhecimento, mas, como sabe, NADA podemos fazer sem o Senhor Jesus. Eu apenas retribuo aquilo que dEle tenho recebido!
abcs
zanini”